Quer você seja do sul, sudeste, nordeste, centro-oeste ou norte, todos
nós já conhecemos aquele clássico sonho. Você está apresentando um
trabalho importante na frente da sala e seus colegas estão prestando
atenção em suas falas. Quando do nada... EI CALMA AÍ, AONDE ESTÃO MINHAS
CALÇAS? Repentinamente, sua cueca está em completa exposição a rostos
risonhos e cheios de chacota devido sua inabilidade de usar calças.
"A puta da minha mãe deve ter esquecido de ter posto minhas calças em
cima de minha cama de manhã, o que ela esperava? Aquela VADIA". Enquanto
todos riem, você sente um incômodo na sua pança e nas suas regiões
íntimas. Corre em direção o lixo da sala e vomita enquanto seus colegas
e professores estapeiam seu bumbum e esmurram o topo da sua cabeça,
dificultando o ato.
Aí você acorda, e, sujo de mijo e vômito acumulado ao longo de suas 8
horas de sono, começa a se preparar para um dia de escola. Porém, tudo
isso não era mero pesadelo para a minha pessoa, não, pois eu vivia isso
TODOS OS DIAS.
Essa é a minha história, Ivo Almeida, de como eu SOBREVIVI O ENSINO
MÉDIO. Com isso, posso apenas esperar conseguir ajudar alguém com minhas
dicas e truques e conselhos e sugestões e direcionamentos e opiniões.
Bom... acho que deveria começar tudo dando uma explicação de como
transcorre um dia normal na minha escola, Colégio Estadual de Santa
Marta da Mata Adentro Rio Abaixo Montanha Acima da Conceição.
O dia começava bem com minha mãe preparando para mim um delicioso hot
pocket junto com um achocolato em pó de marca não esclarecida e pondo a
comida na mesa. Agora, eu consigo entender como alguns podem pensar que
um hot pocket não é uma comida apropriada para se comer de manhã, porém,
a maior parte de nossa comida era comprada altamente descontada perto da
data de validade então precisávamos comer rápido!!
Outro grande problema é que o congelador estava sempre ocupado com
inúmeras placas de GELOX e vacinas que minha mãe havia roubado do
postinho de saúde perto de casa. Algo que você precisa entender é que
minha mãe era uma pessoa muito rancorosa e confrontativa com basicamente
todas as "amigas" dela. Portanto, toda vez que elas vinham para nossa
casa tomar um café minha mãe batizava as bebidas delas com vacinas de
Hepatite B e Tétano, na esperança delas pegarem autismo.
Enfim, após comer meu café da manhã, eu ia andando para a escola porque
o ônibus escolar não passava na minha casa, já que todos na cidade me
odiavam. Depois de andar por aproximadamente 40 minutos eu chegava no
colégio, perto de me atrasar, mas na hora certa de conseguir entrar na
sala. Já houveram algumas vezes em que, quando o primeiro horário era
aula de português, meu professor me avistava chegando a distância e
freneticamente corria para fechar a porta antes de poder adentrar.
Eu acho que entendo a razão para o senhor Fernando fazer isso. Eu
aprendi a ler bem depois da maior parte da população, na verdade, apenas
aprendi a ler de forma mínima aos 13 anos. O processo em que eu fazia
isso era reassistindo reprises da telenovela Rebelde na TV aberta em
espanhol, comparando os sons que eu escutava com as legendas também em
espanhol, o que veio a me deixar com um conhecimento superficial da
língua portuguesa. Contudo, com sorte, comecei a aprender muito mais
depois que meus pais começaram a trazer caixas vazias de leite
fermentado do bob esponja, os quais em cada fundo de caixinha
acompanhava uma espécie de caça-palavras, em português!
Agora que menciono, me lembro de uma instância aonde o professor
Fernando disse que era a MINHA vez de ler em voz alta do livro de
gramática. Como claramente não sei ler tão bem, pensei em adicionar
algumas palavras-chave e frases de interesse como "AVAIANA DE PAU", "um
mamute pequenino" e "antedeguemon" para me deixar mais descolado em
frente a meus colegas. Infelizmente, isso apenas fez com que a coerência
semântica dos enunciados fosse perdida completamente. Tarde demais, pois
meu professor e colegas de classe já haviam me espancado e abaixado
minhas calças múltiplas vezes.
Continuando, após comparecer minhas aulas e ter minha cabeça mergulhada
em todos os vasos sanitários da escola, chega a hora do almoço. Na
cantina você pode encontrar todo tipo de grupo, você tem os atletas, os
baladeiros, os nerds, os CDFs, ou ultra-nerds hiper geeks, os riquinhos
esnobados, os valentões, os bullies, os filhinhos de papai titios de
mamãe, os jogadores de magic the gathering, os trolls de internet, os
blogueiros de tumblr indie derivados, os alternativos músico-centrados
etc, E EU NÃO ME ENCAIXAVA EM NENHUM DELES. Apenas outro exemplo de como
minha vida era uma porcaria.
Normalmente eu nunca tinha dinheiro para poder almoçar, mas eu não
gostava que as pessoas percebessem isso, por isso, todo dia eu esperava
vários minutos na fila com a bandeja apenas para quando fosse minha vez
eu pudesse exclamar alto "NOSSA ESTOU SEM FOME HOJE EIN, NÃO VOU QUERER
NADA", enquanto esfregava a região da minha barriga.