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Ensino médio

Independente do que Pietra achava ou não, eu tinha que continuar com essa corrida, era minha única chance, mesmo que todos já me amassem agora. Peguei meu capacete e pus na minha cabeça, imediatamente me senti desnorteado, novamente, devido às inúmeras lentes oculares de graus variados, eu deveria ter usado mais vezes esse capacete, para me acostumar com a vontade perpétua de vomitar, mas, pensando bem, não é como se eu não já estivesse acostumado à isso não é mesmo. Virei meu olhar para Matias e, enquanto eu conversava com Pietra esse tempo todo, ele já havia transado com 03 espectadoras da plateia, nossa, ele realmente é descolado!

Timidamente me direcionei a Matias e sinalizei que eu estava pronto para começar a corrida, e sugeri que seria bom ele fazer alguns alongamentos e talvez polichinelos antes, para não se machucar. Ele falou para eu tomar no cu, o que não demonstrou muito fair play da parte dele mas fazer o que né. Me posicionei na linha de largada, assim como Matias, tentei não mexer muito a cabeça para não vomitar antes de iniciar, contudo, pensei bem e seria muito melhor eu vomitar agora do que quando eu estivesse correndo, portanto comecei a balançar minha cabeça freneticamente até vomitar nos meus sapatos, espero que isso não afete a funcionalidade deles!

A multidão parecia mais silenciosa que nunca, e as câmeras posicionavam-se estaticamente em nós dois, você poderia ouvir uma seringa cair no chão. O mendigo que eu havia avistado de madrugada estava lá para dar a largada, enfaixado e movimentando-se de maneira robótica e cautelosamente pensada, o que me deixou feliz, já que pude ter o alívio de saber que eu não havia o assassinado. Ele puxou uma arma do bolso dele, lentamente apontou para o ar e, atirou.

Dei o primeiro passo e eu já estava a 200 metros de distância do começo, maneiro! Quando olhei para trás, notei que o corredor enfileirado de espectadores que havia se formado não mais existia, o boom sônico havia propulsionado as pessoas em todas as direções possíveis, uma visão terrível. Além dessa agressão visual, tive o desconforto olfatório de também começar a sentir um cheiro fétido de churrasco, blergh, odeio carne!

Eu estava percorrendo dezenas e dezenas de metros a cada segundo, o que às vezes tornava difícil manter equilíbrio corporal e mudar de direções, por isso, quando me deparei com uma curva fechada, sabia que teria um desafio pela frente caso quisesse continuar na corrida e vencer. Pulei no ar e a velocidade me manteve em movimento por vários e vários metros, quando pus meus pés mais uma vez no chão, virei meu corpo em direção a curva e deslizei um bocado, quase batendo em um orfanato, um drift irado. Ao olhar para trás uma segunda vez, uma poeira de aproximadamente 10 metros de altura havia se formado, como também vários escombros e choros de crianças podiam ser ouvidos, caraca, tenho até fãs mirins hehe!

Que nem Ailton Sena, eu me sentia uma leoa, quebrando a resistência do ar e ignorando pequenos percalços e obstáculos no chão debaixo dos meus pés. Se havia um momento para estar vivo, era esse agora, todas minhas preocupações e inseguranças haviam destilado do meu cérebro e tudo que eu conseguia pensar agora era nas coisas mais importantes da vida, tipo como todos da minha sala me achariam muito mais maneiro. Quando olhei para baixo, minha roupa estava em chamas, radiando um lindo azul que nem o Sonic, nunca estive mais feliz na minha vida, lágrimas escorreram dos meus olhos.

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