Para começo de conversa, em casa, enquanto eu estivesse no meu quarto,
eu sempre estaria me bronzeando. Eu pesquisei na internet e basicamente
as câmaras de bronzeamento artificial proporcionam resultados por causa
do tipo de luz que é utilizado. É uma luz de tonalidade meio azulada
assim.
Por conta disso, comecei a roubar semanalmente papel crepom azul da sala
de artes do meu colégio, para poder colar debaixo de minha lâmpada. Na
verdade, se me lembro corretamente, eu havia me esquecido que a cor azul
existia, e passei algumas semanas tentando colar papéis crepom de cores
diferente sobrepostos para criar aquela tonalidade misteriosa. Porém,
eventualmente, minha memória relembrou sobre a existência da cor azul e
tudo ficou bem mais simples.
Contudo, apenas minha câmara de bronzeamento artificial caseira não é
suficiente, como eu estava falando, quando meu despertador toca às 5
horas da manhã, após os 45 minutos de alongamento genital, eu vou direto
para meu armário e pego meu spray de bronzeamento. Eu costumo usar uma
lata inteira por dia, para ficar com uma pele legal. E, honestamente,
acho que vem funcionando, já que as pessoas sempre me olham quando saio
na rua, invejosos de meu bronzeado.
Transcorrido meu ritual de escurecimento de pele matinal, começo outro
ritual de teor muito mais religioso e sacro. Das 6 da manhã até mais ou
menos 7 da manhã eu me ajoelho e peço a Deus que por favor faça todo
mundo parar de me odiar e que eu acorde no dia seguinte com um pênis de
20 cm.
Enfim, esse foi um dia normal de minha vida, acho que podemos então
voltar para o presente não é mesmo? Estava, como de costume, caminhando
até a escola, quando, perto do portão do colégio, a Gangue da Encrenca
me interpela. Oh não! O que será que eles poderiam querer de mim?
A Gangue da Encrenca é um grupo de veteranos durões e de atitude ruim.
Todos eles vestem uma jaqueta preta de couro, camisa branca, jeans, gel
em seus cabelos e pilotam Harley-Davidsons:
- Ei pirralho, para onde pensa que vai perambular espertalhão? - Disse
Matias, o líder da Gangue, enquanto fazia um topete com seu pente fino.
- E-e-e-e-e-eu quero ir para a escola, não quero confusão rapazes! -
Falei, enquanto xixi começava a sair de minha uretra.
- Olha para esse nerd, se você gosta tanto de ler livros, por que não lê
um que lhe ensine como... hmmm não sei... COMO NÃO SER UM CDF? - Jonas
exclamou do fundo do grupo, ignorante ao fato que eu sou completamente
retardado.
Foi aí que o rio de urina sendo contido pela barragem que é minha cueca,
rompeu o cimento e jorrou para em direção o vilarejo próximo, que são
minhas calças. Ao mesmo tempo, me senti tão envergonhado que acabei
vomitando e ficando desnorteado. A Gangue da Encrenca nunca deixaria uma
oportunidade dessa passar.
Todos eles me rodearam e começaram a me espancar e tentar apertar o topo
da minha cabeça, achando que eu ainda tinha moleira. Depois de
finalmente sucumbir ao chão, me deitando sob uma mistura de mijo, vômito
e sangue, Matias se ajoelhou, me abraçou e sussurou em meu ouvido:
- Você vai morrer nessa escola pirralho, não chegue perto de nosso
território caso não queira um sopapo!