- Uma corrida a pé! Se eu vencer você tomará minha popularidade e eu a sua, se você vencer... me enforcarei em frente a todos na praça da cidade!
Naquele momento, após ter dito isso, todos audivelmente se espantaram em sincronia. Se eu vencesse, iria subir para um dos maiores escalões do ranque de popularidade social, e Matias haveria de viver o resto da vida sendo a pessoa mais odiada da cidade, o que irritaria inúmeras pessoas, mas elas teriam que respeitar pois essas são as regras. Agora, caso ele vencesse, a população inteira teria o enorme prazer de finalmente poder me ver morto, enquanto jogariam tomates e vegetais estragados na direção de meu cadáver.
Matias começou a suar, ou pelo menos era o que eu queria que acontecesse, mas independente disso:
- Ok otário, eu aceito participar de sua competição retardada, apenas tente não chorar quando você perder e eu ganhar e você tiver que se matar HAHAHA! - Ele gritou o mais alto que pode.
- Pois você bem verá que eu não sou um otário, tão pouco um retardado e muito menos um suicida! O trajeto começará no portão do colégio e iremos circular a cidade até voltar à escola! - Eu respondi, já com uma mancha vísivel nas minhas calças.
- Pois nós vamos estar lá, e depois de esfregar o chão com você, nós vamos lhe espancar, e aí, você vai se matar. - Garett zombou.
E então tudo retornou ao silêncio e meus colegas voltaram a prestar atenção em seus almoços e bandejas. Eu, por outro lado, estava quase decidindo me matar bem ali, minha ansiedade estava mais alta que os Chads que pegam todas as meninas e não deixam nenhuma para mim. Me retirei rapidamente do refeitório em direção à saída que leva para o lado de fora, precisava passar em um lugar antes da corrida.
Andei por uns 15 minutos e cheguei aonde precisava estar, a Drogaria São Paulo, que fica ao lado da Drogasil, da PagueMenos e da do Trabalhador. Eu precisava de algo que acalmasse meus nervos e me deixasse num estado de maior harmonia mental, caso contrário, estaria muito nervoso para sequer ir ao local combinado de largada ou, mesmo se participasse, provavelmente me cagaria, mijaria e vomitaria ao longo do caminho inteiro. Essa São Paulo em específico me deixa pegar qualquer tipo de remédio sem a necessidade de ter em mãos uma receita médica.
Mas isso não é porque eles gostam de mim, na verdade, muito pelo contrário. O dono dessa farmácia é outra pessoa que tem um ódio pujante por mim, e ele acredita que se for permitido à minha pessoa a liberdade de comprar remédios tarja preta sem prescrição alguma, eventualmente eu abusarei deles e morrerei de overdose. E, agora que paro para pensar, esses farmacêuticos são as únicas pessoas na cidade, excluindo alguns familiares, que me tratam com cordialidade e gentileza, sempre com seus "Bom dia", "Você vai querer uma sacola?" ou "Ficou R$ 9,90", isso é um truque para fazer com que eu me sinta mais confortável e seguro em tomar os remédios claro, mas eu percebi isso bem no início então eu apenas finjo que eles realmente gostam de mim:
- Oi eu preciso de alguns ansiolíticos ou antipsicóticos ou sei lá. Qualquer coisa que me ajude a relaxar cara por favor eu estou desesperado. - Eu implorei, mas eu tava chorando então minha voz saiu meio abafada e anasalada.
Coincidentemente o dono da farmácia estava presente hoje, e na hora que ele escutou a palavra "desesperado" ele prontamente saiu da sala dos fundos e decidiu me atender pessoalmente. Eu fiquei um pouco emocionado porque nenhum estranho nunca se importou tanto assim comigo quanto essa pessoa que quer minha morte se importou. Tentei falar com ele sobre minhas queixas mas ele apenas ficou pegando de debaixo do balcão caixas e mais caixas de Diazepam e Alprazolam sem nem me ouvir.