Outra coisa muito boa que aconteceu foi que me deixaram levar os remédios sem precisar pagar por eles. O que me deixou mais calmo, já que estava me preparando e pensando numa estratégia para roubá-los sem ser notado. Todo mundo parecia muito animado e até me perguntaram se eu gostaria de um copo d'água para tomar os comprimidos ali mesmo.
Logicamente eu aceitei, não só porque caso eu não tomasse a água ali eu teria que furtar uma garrafa d'água para ingerir as pílulas, mas também porque eu não consigo engolir nenhum tamanho de comprimido, não importa o tamanho. Por conta disso, eu usualmente esmago os remédios até virarem um pó finamente particulado, e depois jogo dentro de um copo com água e misturo, dessa forma, fica mais fácil de engolir, mas ainda assim é um pouco difícil. Independente, esmaguei uns 15 Alprazolam's e os diluí na água, que na verdade mais assemelhava leite após a mistura!
E então me retirei das premissas da farmácia, enquanto todos os funcionários davam tapinhas em minhas costas e me falavam que eu era "muito corajoso" por ter bebido aquele coquetel químico, o que me deixou muito confiante para ser sincero. Comecei a voltar para o colégio pois a hora da corrida se aproximava cada vez mais, tudo estava nos conformes. Porém, no meio do caminho o efeito dos ansiolíticos se iniciou, e foi como se o mundo tivesse parado diante dos meus olhos, o que na real é bem legal porque deve ser assim que o Sonic se sente enquanto está correndo muito rápido.
Contudo, claramente ainda não havia absorvido a dose máxima possível, algo que provavelmente só irá acontecer no meio da corrida, que, agora que penso, é uma esperta e não planejada estratégia de minha parte para ser honesto. Estava ciclando entre ter autoconsciência por alguns minutos e perder ela por alguns segundos, mas eu já estava perto da entrada do colégio e não teria que me preocupar com isso. No horizonte eu até conseguia ver uma multidão imensa de alunos de todos os anos da escola, uau!
Quando cheguei mais perto ainda, notei algumas pessoas mais velhas segurando microfones e conversando com câmeras. Uma van curiosa com alguns apêndices tecnológicos conectados à ela também estava presente, foi aí que percebi um desenho circular plotado em uma das laterais do veículo. Eu não acredito... a TV Bahia veio fazer a cobertura do evento!
Graças a Deus que os comprimidos já estavam surtindo um efeito ligeiramente maior, caso contrário, estaria chorando e gritando de vergonha neste exato momento. O mais interessante de tudo é que eu estava sendo capaz de manter conversas completamente normais e toleráveis com os outros, e o mais surpreendente é que eles estavam me respondendo e olhando nos meus olhos. Talvez fosse isso que estivesse faltando em minha vida durante todo esse tempo, um consumo rotineiro de fármacos psiquiátricos.
Mas, de qualquer jeito, era tarde demais, a corrida estava para começar e Matias chegaria a qualquer momento, parei de conversar com as pessoas e fui andando em direção à largada. Ao me virar, fiquei em completo estado de choque, a TV Bahia só havia chegado há alguns segundos, mas, dezenas e dezenas de moradores serpenteavam as margens do trajeto pré-determinado da corrida, similar aos telespectadores de Fórmula 1, se posicionando em pontos de vantagem para melhor visualização da ação. Eu digo que foram alguns segundos, mas podem muito bem ter sido uns 20 minutos porque esses ansiolíticos podem alterar sua percepção de passagem do tempo um pouco.