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Ensino médio

Estava tão animado que corri freneticamente até as arquibancadas para falar com aquele mendigo, dessa vez sem utilizar os poderes monstruosos dos meus tênis. Fui chegando mais perto e comecei a ouvir gemidos e grunhidos vindo do local e torci para que ele estivesse em tremenda dor e não se masturbando. Acontece que ele estava sim em tremenda dor, para minha sorte, e também azar eu acho.

As suas mãos cobriam os ouvidos enquanto ele rolava levemente no chão aparentando não estar entendendo muito bem aonde estava, ou por estar supostamente bêbado ou por ter estado presente perto de um estrondo sônico sem proteção adequada. Não me senti mal pelo sem-teto ter ficado assim porque, eventualmente, ele iria usar o tempo livre dele para comprar e usar drogas, com dinheiro dos outros ainda, e, caso ele não tomasse cuidado, acabaria que nem os maconheiros do meu colégio. De qualquer forma, eu pedi a Deus para curar ele e fui embora, o sol já estava para nascer afinal de contas.

No meio do caminho percebi como havia sido meio imbecil de minha parte não ter preparado uma sacola com tudo que eu precisaria para me arrumar para a escola, não tendo assim que retornar para minha casa. De qualquer forma eu fui e voltei andando e botei todo esse tempo de translado para uso, organizando meus próximos planos e pensamentos. A primeira coisa a ser feita seria criar uma richa pública com a Gangue da Encrenca e desafiá-los a uma corrida, após o sinal bater.

Eu cheguei atrasado e por conta disso não haviam muitas pessoas na entrada do colégio ou sequer nos corredores em si, por isso esperei até o horário do almoço para iniciar a intriga. O refeitório seria o lugar perfeito para chamar a atenção de todos os diferentes subgrupos de pessoas, amplificando minhas chances de conseguir uma querida para levar ao baile. Devo dizer, normalmente quando jogavam comida e chiclete em mim ou mergulhavam minha cabeça nos vasos sanitários ou me enfiavam dentro de armários eu me sentia um pouco chateado, mas hoje, o maior e mais expressivo dos sorrisos marcava meu rosto durante todas essas ocorrências, pois sabia que a partir de hoje as coisas mudariam.

Do nada, já era hora de almoçar, e eu estava na cantina, o tempo passou tão rápido que até pareceu que eu havia desmaiado e acordado horas depois sem me lembrar de uma única coisa, o que na verdade é uma possibilidade bem real do jeito que as coisas são. Enfim, para minha felicidade, a mesa que fica exatamente no centro do refeitório estava completamente vazia, e parecia que haviam vindo mais alunos que o normal, os ventos estavam a meu favor. Antes de subir na mesa e começar minha declaração de guerra, fingi ter dinheiro para almoçar pela última vez, queria que a opinião geral sobre mim aumentasse pelo menos o mínimo possível antes de me expor dessa forma.

Inicialmente eu tentei fazer aquela coisa legal quando uma pessoa vem correndo bem rápido e aí se joga aos joelhos e desliza com eles por uma pequena distância, até havia vindo com calças especiais com tecido espessado na área dos joelhos. E, talvez como pagamento de débito kármico pela audição do mendigo (que talvez nem tenha sido eu), eu acabei pulando tarde demais. A ideia seria correr até a mesa, pular, rapidamente levantar minhas pernas para que elas não batessem na mesa, ficando assim numa espécie de posição agachada no meio do ar, e depois eu jogaria as pernas para trás e deslizaria graciosamente.

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